Não queria em momento algum usar-me como exemplo, acho até que não seria um bom exemplo.
Sou negra e sou bolsista. Fiz o Enem, tirei uma nota razoável e optei por essa instituição e esse curso, porém, o que eu NOTEI e pude provar de perto, é que o meu ensino médio é inferior aos outros alunos que vieram de escolas particulares. E não por um quesito de cor de pele, pois tenho vários amigos bolsistas de todas as etnias, mas porque cursei até o 3º período de administração, e senti dificuldades com todas as matérias que envolviam cálculos, não só eu, como quase todos que ali eram bolsistas. O curso de Direito não é mais fácil que o de Administração, o conceito é outro. Então, quando eu digo "profissional de segunda linha” estou somente afirmando o que de fato acontece. Não com todos, mas com uma parte. Tentei mostrar que o sistema de cota racial é descriminatório. Afinal, esse projeto dá a vaga a alunos que serão analisados não por seu mérito, mas pela cor de sua pele. E isso, me diz, isso é ser de primeira linha? O negro, menos preparado, como o branco vai sim ser um profissional de segunda linha, e se acaso não for, muitos serão funcionários de empresas de segunda linha. O papel da faculdade não é pagar e reparar as injustiças históricas (tanto contra negros ou índios), mas trazer conhecimento. E o conhecimento só se chega se o sujeito tiver uma base, e a base das escolas públicas ainda precisa comer muita luz para poder dizer que é uma base forte.
E pior, a rotulação de que negros são inferiores, vai mudar para o discurso de "profissionais cotistas", e mais uma vez seremos vitimas de descriminalização. Estou mentindo???
Não sou a favor e nunca serei de vaga por piedade, pois para mim, é isso. É mendigar um espaço na faculdade, mesmo que eu me torne um dos melhores profissional de minha área, ainda assim, serei sempre julgado por ter tido "benefícios" simplesmente por que nasci negro.
Para mim, até mesmo o método econômico, deveria ser também analisado pelo mérito. Não acho correta a forma de avaliação. É a minha opinião. O próprio Fernando Haddad, um dos principais defensores das cotas raciais, afirmou preferir as cotas para os pobres (econômico).
Em uma de minhas pesquisas para montar aquele texto, li de um sociólogo, o Sr. Demétrio Magnoli a seguinte afirmação: "Políticas baseadas na raça são a negação do princípio fundador da democracia, segundo o qual as oportunidades das pessoas estão em aberto - e não predeterminadas por suas origens".
Sigo afirmando que já houve discursos racistas demais, de divisão por raça e que causaram os maiores erros da história do mundo, e não há borracha que apague, cito a apartheid, a escravidão, o holocausto provocado pelo discurso de supremacia de raça de Hitler, da rotulação de que todo índio é preguiçoso. Concordo com uma matéria que li da revista Veja que diz que "é ingênuo pensar que o progresso social se acelera quando o estado inverte o sinal de modo que um grupo racial historicamente derrotado possa, finalmente, triunfar sobre seus algozes. Isso produz mais ódio".
Portanto, eu continuo afirmando, que sim, somos merecedores de termos uma profissão, que temos o direito de ingressar em boas faculdades, que podemos escrever uma história diferente para nós das que foi dos nossos avôs, mas digo que não sou merecedora disso tudo simplesmente por ter mais melanina no sangue do que os outros. Dar respaldo para um projeto de "cotas raciais" é dar apoio para que haja uma divisão clara entre brancos e negros, e isto, é inconstitucional. Pois para todos nós, estudantes do curso de direito, sabemos (e caso não saibam procurem saber), que o Art. 5º, assegura "que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...", e se vocês continuarem a leitura por todos os outros incisos e tantas alíneas, verão que isso se define ainda mais inconstitucional.
O que a gente aprende desde o primeiro dia de curso de direito, é parar de pensar no senso comum. O senso comum é muito bom para julgar banalidades. O que a gente tem que fazer é se respaldar na lei, na Constituição Federal e não em utopia de que com isso, todas as injustiças sofridas pelos negros serão sanadas. Não é assim que a banda toca e não vai tocar.
O que a gente, enquanto negro e economicamente desfavorecido deve fazer, é aproveitar as oportunidades por mérito, e estudar para não darmos margem ao 'profissionais de segunda linha'. Essa coisa que o governo criou para "americano" ver. Por que no fim é isso, o Brasil quer mostrar a todo custo que é um país desenvolvido e que sim pode ser um país de primeiro mundo, baseando-se nas estimativas de que aqui, todos somos alfabetizados e que a maioria tem ensino superior. Consegue me compreender? Não estou dizendo com isso Daniele, que o desempenho dos negros é inferior aos dos alunos brancos, o que eu disse, é que como a MAIORIA dos pobres SÃO NEGROS, ele acaba sendo engolido por todos os outros candidatos, não por conta de sua cor, ou sua posição econômica, mas pelo ensino de base que NÓS não tivemos, e que ainda está longe de ser o melhor.
Não sou contra o ingresso de negros através de cotas, sou contra o favorecimento da descriminalização, do preconceito, do racismo descabido e que estão tentando aprovar por lei. Sou contra a divisão por raça, até porque eu acredito que quem tem raça é "animal irracional", nós enquanto ser humano temos distinções que não podem jamais serem colocadas como critério de escolha em nada, absolutamente nada em nossa vida!
Pra quem se interessar:
Entre tantos outros que li, acredito que esses são os que mais claramente explica o que eu, na minha humildade, tentei falar.
Em momento algum quis incitar o ódio, repudio, ou qualquer outro tipo de sentimento anti-racial, pelo contrário, só estou debatendo, o porque não acredito que cotas por raça possa ajudar os negros ou qualquer outra etnia a ser um profissional de sucesso, se no fim, seremos avaliados por nosso mérito tão somente.
Muita Luz e Esclarecimento a todos nós!
Chris Dionízio (Edna)