quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Retratação, Explicação e outras coisas a mais!

Não queria em momento algum usar-me como exemplo, acho até que não seria um bom exemplo.
Sou negra e sou bolsista. Fiz o Enem, tirei uma nota razoável e optei por essa instituição e esse curso, porém, o que eu NOTEI e pude provar de perto, é que o meu ensino médio é inferior aos outros alunos que vieram de escolas particulares. E não por um quesito de cor de pele, pois tenho vários amigos bolsistas de todas as etnias, mas porque cursei até o 3º período de administração, e senti dificuldades com todas as matérias que envolviam cálculos, não só eu, como quase todos que ali eram bolsistas. O curso de Direito não é mais fácil que o de Administração, o conceito é outro. Então, quando eu digo "profissional de segunda linha” estou somente afirmando o que de fato acontece. Não com todos, mas com uma parte. Tentei mostrar que o sistema de cota racial é descriminatório. Afinal, esse projeto dá a vaga a alunos que serão analisados não por seu mérito, mas pela cor de sua pele. E isso, me diz, isso é ser de primeira linha? O negro, menos preparado, como o branco vai sim ser um profissional de segunda linha, e se acaso não for, muitos serão funcionários de empresas de segunda linha. O papel da faculdade não é pagar e reparar as injustiças históricas (tanto contra negros ou índios), mas trazer conhecimento. E o conhecimento só se chega se o sujeito tiver uma base, e a base das escolas públicas ainda precisa comer muita luz para poder dizer que é uma base forte.
E pior, a rotulação de que negros são inferiores, vai mudar para o discurso de "profissionais cotistas", e mais uma vez seremos vitimas de descriminalização. Estou mentindo???
Não sou a favor e nunca serei de vaga por piedade, pois para mim, é isso. É mendigar um espaço na faculdade, mesmo que eu me torne um dos melhores profissional de minha área, ainda assim, serei sempre julgado por ter tido "benefícios" simplesmente por que nasci negro.

Para mim, até mesmo o método econômico, deveria ser também analisado pelo mérito. Não acho correta a forma de avaliação. É a minha opinião. O próprio Fernando Haddad, um dos principais defensores das cotas raciais, afirmou preferir as cotas para os pobres (econômico).

Em uma de minhas pesquisas para montar aquele texto, li de um sociólogo, o Sr. Demétrio Magnoli a seguinte afirmação: "Políticas baseadas na raça são a negação do princípio fundador da democracia, segundo o qual as oportunidades das pessoas estão em aberto - e não predeterminadas por suas origens".

Sigo afirmando que já houve discursos racistas demais, de divisão por raça e que causaram os maiores erros da história do mundo, e não há borracha que apague, cito a apartheid, a escravidão, o holocausto provocado pelo discurso de supremacia de raça de Hitler, da rotulação de que todo índio é preguiçoso. Concordo com uma matéria que li da revista Veja que diz que "é ingênuo pensar que o progresso social se acelera quando o estado inverte o sinal de modo que um grupo racial historicamente derrotado possa, finalmente, triunfar sobre seus algozes. Isso produz mais ódio".

Portanto, eu continuo afirmando, que sim, somos merecedores de termos uma profissão, que temos o direito de ingressar em boas faculdades, que podemos escrever uma história diferente para nós das que foi dos nossos avôs, mas digo que não sou merecedora disso tudo simplesmente por ter mais melanina no sangue do que os outros.  Dar respaldo para um projeto de "cotas raciais" é dar apoio para que haja uma divisão clara entre brancos e negros, e isto, é inconstitucional. Pois para todos nós, estudantes do curso de direito, sabemos (e caso não saibam procurem saber), que o Art. 5º, assegura "que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...", e se vocês continuarem a leitura por todos os outros incisos e tantas alíneas, verão que isso se define ainda mais inconstitucional.

O que a gente aprende desde o primeiro dia de curso de direito, é parar de pensar no senso comum. O senso comum é muito bom para julgar banalidades. O que a gente tem que fazer é se respaldar na lei, na Constituição Federal e não em utopia de que com isso, todas as injustiças sofridas pelos negros serão sanadas. Não é assim que a banda toca e não vai tocar.

O que a gente, enquanto negro e economicamente desfavorecido deve fazer, é aproveitar as oportunidades por mérito, e estudar para não darmos margem ao 'profissionais de segunda linha'. Essa coisa que o governo criou para "americano" ver. Por que no fim é isso, o Brasil quer mostrar a todo custo que é um país desenvolvido e que sim pode ser um país de primeiro mundo, baseando-se nas estimativas de que aqui, todos somos alfabetizados e que a maioria tem ensino superior. Consegue me compreender? Não estou dizendo com isso Daniele, que o desempenho dos negros é inferior aos dos alunos brancos, o que eu disse, é que como a MAIORIA dos pobres SÃO NEGROS, ele acaba sendo engolido por todos os outros candidatos, não por conta de sua cor, ou sua posição econômica, mas pelo ensino de base que NÓS não tivemos, e que ainda está longe de ser o melhor.

Não sou contra o ingresso de negros através de cotas, sou contra o favorecimento da descriminalização, do preconceito, do racismo descabido e que estão tentando aprovar por lei. Sou contra a divisão por raça, até porque eu acredito que quem tem raça é "animal irracional", nós enquanto ser humano temos distinções que não podem jamais serem colocadas como critério de escolha em nada, absolutamente nada em nossa vida!

Pra quem se interessar:



Entre tantos outros que li, acredito que esses são os que mais claramente explica o que eu, na minha humildade, tentei falar.

Em momento algum quis incitar o ódio, repudio, ou qualquer outro tipo de sentimento anti-racial, pelo contrário, só estou debatendo, o porque não acredito que cotas por raça possa ajudar os negros ou qualquer outra etnia a ser um profissional de sucesso, se no fim, seremos avaliados por nosso mérito tão somente.

Muita Luz e Esclarecimento a todos nós!

Chris Dionízio (Edna)

8 comentários:

  1. Bom, um dos objetivos da República Federativa do Brasil é a redução das desigualdades, como pode-se notar no art.3º, II da CF/1988.
    Como, todos sabemos, esta previsto no art. 5º da CF "que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...", no qual pode-se entender que um dos objetivos fundamentais é a igualdade de todas as pessoas, só que juntamente com este princípio temos o da obrigatoriedade da redução das desigualdades.
    Logo, não basta somente que o Estado não trate as pessoas de forma desigual, mas é necessário que o mesmo atue de forma a reduzir essas desigualdades, por exemplo o abismo que separa o ensino nas escolas privadas das públicas.
    Com base no pensamento de Canotilho:
    o princípio da igualdade e da redução
    das desigualdades são o que ele denomina de princípios constitucionalmente
    estruturantes. São princípios que designam o núcleo essencial
    da Constituição, garantindo a ela uma determinada identidade e estrutura.
    Possui duas dimensões:
    “(1) uma dimensão constitutiva, dado que os princípios, eles
    mesmos, na sua fundamentalidade principial, exprimem, indicam,
    denotam ou constituem uma compreensão global da ordem
    constitucional;
    (2) uma dimensão declarativa, pois estes princípios assumem, muitas
    vezes, a natureza de superconceitos, de vocábulos designantes,
    utilizados para exprimir a soma de outros subprincípios e de concretizações
    normativas constitucionalmente plasmadas”.
    Portanto, sendo os princípios da igualdade e de redução das desigualdades caracterizados como princípios constitucional, desde a promulgação da CF de 1988, logo estes devem servir de base para todas as atividades públicas (executiva, legislativa e judiciária), ou seja, "Princípio é uma norma carregando todas as implicações deste fato".
    Em razão disso, defendo mais uma vez a temática do meu trabalho que é de ser à favor da política de cotas para minorias.

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  2. Notavelmente, como você mesmo exemplificou a questão da dificuldade escolar é uma questão de aptidão. Na vida temos que saber fazer as escolhas certas. Isso porque, como alunos de escola pública possuem uma base escolar “fraca”, algumas disciplinas são mais difíceis de fixar. Não posso afirmar, mas, acredito que agora, no curso de Direito, você tem tido um bom desempenho e digo isso não porque o curso é mais fácil, mas como você mesmo disse o conceito é diferênte, não trabalhamos com ciências exatas mas com interpretações baseadas em regras.
    Apesar de não ser negra, também sou bolsista, e,sinceramente, não me imagino futuramente como um “profissional de segunda linha”, e nem tampouco pretendo prestar serviço a uma “empresa de segunda linha”. Acredito também que esse não é o objetivo dos nossos colegas bolsistas ou cotistas, mesmo porque, temos que nos manter na média para garantirmos nossa vaga e isso se dá pela dedicação. Por fim, acredito que a dedicação do aluno em seu curso é um bom começo para a formação de um bom profissional.

    Até.
    Daniele 2ºB

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  3. Concordo com você Nicolas, "cotas para minoria" e não por "raça". Acho que o que as pessoas não estão conseguindo seraparar é justamente isso, cotas raciais de cotas sociais.
    E sem contar que não adianta somente dar uma vaga na faculdade para alguém que não tem condições em arcar com estudos universitários, pois a pessoa tem que ter capacidade para poder absorver todo ensinamento que vão lhe passar, e isso não é algo que você carregue no seu DNA. O fato de ser ou não negro, cotista ou não, não vai ser critério de avaliação em desempenho, até porque em uma pesquisa, levantou-se o dado que os alunos bolsistas são os que mais tem redimento positivo nas universidades. E eu sei que isso se dá, pelo motivo de necessitarmos estar sempre atualizados, e nos dedicarmos mais, pois o sistema de bolsa funciona com punições severas e até perda de bolsa se não atingirmos um determinado indice. E concordo com você Daniele.
    Porém, os negros do passado não queriam ser escravos, e tampouco hoje serem taxados, porém o que acontece é isso, e nariz torcido quando se fala em cota.
    Sou a favor da cota social para diminuir ou exterminar a desigualdade, mas que seja usada com cautela, para que amanhã não coloquem uma pessoa em uma faculdade e com o passar do semestre, a decepção da descoberta de estar menos preparado vir a tona e levá-lo a desistência do curso (como já vi em muitos casos).
    O curso de Direito, tem me feito abrir mais o leque de minhas preocupações sociais. Como membra de uma ONG que preza pelo Social do ser humano, defendo sim, que os minoritários tenham oportunidades iguais aos da grande massa, porém, também digo, que além de apontar onde tem peixe no mar, que o Estado possa dar condições para que a pessoa possa pescar. Afinal, o que adianta o mar cheio de peixe se você não souber usar a rede???
    Bom... obrigada por tantos comentários, as críticas são todas bem aceita, ainda mais que nesse caso, é para o meu crescimento intelectual.
    Até mais....
    E como sempre, muita luz de esclarecimentos para todos nós!

    Chris Dionízio - (Edna)
    2º Período

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Também queria dizer que todos os argumentos, opiniões entre outros são bem aceitos por mim, e vejo isto como forma de tentar analisar os diversos pontos de vistas a fim de consolidar e aperfeiçoar minhas opiniões.

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  6. Olá,

    Acho que discutir sobre qualquer assunto será primordial para todos hoje e sempre. Como profissionais do Direito devemos estar preparados para revidar a qualquer posição, não que devemos mascarar o errado até porque podemos escolher em que lado ficar, mas sim entender que uma discussão responsável, como a que estamos desenvolvendo, só tem a acrescentar a cada um de nós. Ademais, quando apresentamos nossas ideias e analisamos outras opiniões abrangemos nosso leque de informações, portanto, acredito que estamos no caminho certo.

    “Posso não concordar com o que dizes, mas lutarei até o fim pelo direito de dizê-lo”.
    Voltaire.

    Abraços.

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  7. Prezados, gostei muito de como transcorreram as discussões. vocês estão de parabéns. Abraços e continuem assim.

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  8. Sou contra qualquer tipo de cotas, tanto social quanto racial. Cotas é um preconceito autorizado pelo Estado. Acho que meu Deus deve ser diferente de todos, pois ele não é preconceituoso e deu a mesma capacidade a todas as pessoas, independente de cor/raça. A meu ver, o Estado está tentando “tapar o sol com a peneira”, uma vez que, o ensino público é péssimo – isso não nos resta duvida – ele tenta mascarar o péssimo ensino com as cotas. Às vezes só analisamos um lado, e o outro lado, de gente que paga escola particular, e na hora do vestibular perde a vaga para um cotista que tirou nota menor? E outra, como já vimos, nosso maravilhoso sistema deixa brechas, quase que convidativas para a fraude (como podemos ver nesse link http://www.youtube.com/watch?v=A0dr5cfWM-E ) Atualmente, todos querem estudar em escolas particulares, mas antigamente o ensino publico era referencia. Os melhores professores davam aula nas escolas publicas. Por que isso mudou? Ao invés de ajudar a quem não tem condição, por que não melhora o ensino publico? Não estaria ajudando do mesmo jeito?


    Jonathan Sodré - 2P Noturno

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